Viver com ansiedade é viver constantemente com a sensação de que algo não está bem. É viver com um nó na garganta e com o peito apertado sem saber porquê. É não conseguir viver o momento presente, preocupada com o futuro e retida no passado. É muitas vezes sentir-me presa a um corpo, com vontade de me libertar e agarrar a vida como nunca o fiz.
Sofro de ansiedade desde os meus 16 anos, e os primeiros sintomas que tive foram: sensação de desmaio, coração acelerado e muito medo. O medo era diário e acompanhava uma certa tristeza, para a qual, não existia motivo aparente, a não ser, uma adolescência atribulada (quem nunca teve?!), com baixa autoestima, insegurança e medo de arriscar.
A primeira crise de pânico foi aos 19 anos, numa sala de cinema. Estava tudo bem, ambiente descontraído, rodeada de amigos, não havia motivo para me sentir insegura ou ameaçada, mas o sentimento de medo e confusão foi avassalador. Pensei por largos minutos de que ia morrer ou enlouquecer. O pensamento tornou-se veloz à medida que os batimentos cardíacos aceleraram, o coração parecia que saltava do peito, o medo instalou-se e as lágrimas escorriam pelo rosto. Segui para o hospital, no qual, fui rapidamente atendida.
O médico que fez o diagnóstico disse com naturalidade: “Você teve uma crise de pânico, sofre de ansiedade”. Só aí é que fez sentido, tudo que tinha sentido e passado até o momento. Foram muitos os diagnósticos até chegar a esta conclusão: depressão, hipotensão, hipoglicemia etc.
A partir desse momento senti a necessidade de procurar ajuda de um psicólogo, alguém com quem pudesse falar, sem me julgar, dizer tudo o que me passava pela cabeça, no fundo sentir-me ouvida e compreendida. Fiz psicanálise durante um ano, comecei a compreender muita coisa, comecei a associar comportamentos e crenças que fazia com que me sentisse insegura e com baixa autoestima.
Percebi também, que tudo o que eu sentia era válido, tal como, o sofrimento de outra pessoa com uma doença física. Deixei as consultas não porque me sentisse 100% bem, mas porque ia mudar de cidade e naquela época não tinha a modalidade de atendimento online.
A vida segue o seu rumo, com altos e baixos e a determinada altura, procuro novamente apoio psicológico através do Sistema Nacional de Saúde (SNS), as consultas eram uma vez por mês e eu sentia que não resultava, simplesmente era muito pouco.
Até que um dia, já licenciada em Serviço Social, decido juntamente com uma colega da área da psicologia Social, criar uma associação que desse voz a todos aqueles que sofrem de uma ou mais perturbações de ansiedade.
Eu conhecia os números e estatísticas nesta área, mais do que isso, eu sentia na pele as necessidades existentes face a esta problemática. Muito devido à falta de recursos e respostas por parte do SNS e aos preços praticados nas entidades privadas, que se tornam incomportáveis para a maioria das pessoas. Igualmente, sentia algum preconceito e estigma sobre esta doença, em parte, devido ao desconhecimento face à patologia e aos procedimentos a tomar.
Sendo eu da área Social, só me fazia sentido criar uma resposta social que colmatasse as essas mesmas necessidades, que fosse ao encontro de soluções para melhorar a saúde mental de toda e qualquer pessoa. Mais, considero que todos devemos ter direito a uma saúde mental mais justa e eficaz.
Autora do testemunho: Ana Santos, fundadora da Associação Portuguesa das Perturbações da Ansiedade (APPA)